O amor do Leleco

Cartas de amor, declarações e fotos, para a única mulher que amei na vida. Te Amo, Dani!!!

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segunda-feira, junho 26, 2006

Hipocrisia

Bom, já estava para escrever sobre este tema. Confesso que pensei demais antes de postar, receando uma má interpretação. Mas hoje presenciei uma cena lamentável, que me fez escrever este post.

Sabemos que no Brasil colônia, milhares de negros foram trazidos da África, e que estes vieram como escravos. Nem todos sabem, mas esses negros vindos da África já eram escravos dos seus próprios conterrâneos africanos - negros também. Sabemos também que sofreram muito até a abolição da escravatura.

No decorrer da História, os negros passaram por humilhações e por discriminações diversas. Mas não podemos negar que houve uma mudança considerável no panorama dos negros do país. Não há mais tanta disparidade. Vivemos numa época diferente de "racismo", o de classes sociais.

Hoje, quando fui mandar uns currículos no Correio, fui testemunha de uma cena lastimável. Na fila, havia um negro na minha frente, e um senhor branco, de bastante idade, foi direto para o guichê para perguntar onde poderia ser atendido. O rapaz negro reclamou, dizendo que estava se sentindo prejudicado no atendimento, e que estava sendo vítima de racismo. Confesso que fiquei bestificado com a reação, pois o senhor deveria ter uns 85 anos, no mínimo, e que somente perguntou onde era a fila dos idosos.

Foi aí que a discussão acalorou-se. O senhor de idade pediu desculpas por ter furado a fila e acrescentou que tinha o direito de um atendimento preferencial, pois era idoso. O rapaz não se conformou, e continou falando que estava sendo vítima de racismo.

O rapaz, então, começou um discurso para quem quisesse ouvir, mencionando a "superioridade" do negro quanto ao físico, e até quanto à inteligência, e que nada nem ninguém conseguiriam diminuir. O senhor então perguntou ao rapaz: "Se os negros são tão superiores assim, porque existe esta cota racial* nas universidades públicas?".

E não é que o rapaz queria chamar a polícia?

Foi aí que resolvi interferir no caso, pedindo que ponderassem suas atitudes. Eu sou uma pessoa que detesta qualquer tipo de injustiça ou conflito. O senhor entrou na agência dos Correios totalmente sorridente, leve, e já estava vermelho. Fiquei com medo de que passasse mal. Entendo que houve um exagero nesse caso, pois não considerei que o senhor tenha tido atitudes racistas.

A situação só se controlou quando um outro guichê foi aberto. Os dois foram atendidos ao mesmo tempo.

Quando saí da agência, vim para minha casa e fiquei refletindo sobre o ocorrido e em como as pessoas se agridem gratuitamente.

Acho que eu posso falar com isenção sobre este assunto, pois meu melhor amigo é negro. Eu o conheço há 17 anos. Estudávamos juntos no mesmo colégio, jogávamos futebol juntos. A Dani é testemunha do quanto o considero como amigo.

Acho que vivemos em um mundo de hipocrisia neste país. Qualquer atitude é encarada como racismo. Não raro, vê-se um negro vestindo uma camisa onde se lê: 100% negro. Mas se um branco usar uma camisa com a incrição 100% branco, será tachado de racista.

Acho que o orgulho de uma raça não pode ser confundido com racismo. Um negro deve ter orgulho de sua raça, sim, como todo branco também deve ter, mas nunca usar este pseudo orgulho com intuito de ferir outra raça.

Não podemos negar que os negros foram vítimas de preconceitos diversos, mas esse preconceito está reduzidíssimo.

O que não pode é acirrar o racismo, como até o governo vêm fazendo. Essa questão das cotas* só vêm acirrar o racismo no país. O que sugere a cota? Sugere a inserção de negros nas universidades públicas no país. Com qual intuito? Essa Lei das cotas é, ao meu ver, racista. Acredito que só diminui ainda mais o negro e sua capacidade.

Concordo com as cotas*, mas elas deveriam ser dirigidas aos que não possuem condições de pagar uma universidade particular. Acho que numa universidade, principalmente as públicas, o que deve prevalecer é o mérito pessoal, não o racial. Devemos é cobrar das autoridades públicas um ensino público melhor, que dê aos estudantes iguais direitos num vestibular.

Outro ponto interessante nesse caso é que os brancos, hoje em dia, são condenados por atos praticados pelos portugueses no Brasil colônia. Os brancos, para a maioria dos negros, carregam a culpa dos portugueses.

Conheço advogados, médicos, engenheiros, dentistas, publicitários, artistas, músicos, políticos, taxistas, juristas e muitos outros profissionais que são negros. Esse clamor do povo, que alega ser racista o mercado de trabalho, é hipócrita, pois emprego é difícil para brancos e negros e, nesse ponto, não há distinção da cor. Se há uma espécie de discriminação no mercado de trabalho, é dirigido contra as mulheres, que dominam o mercado, mas ganham bem menos do que o homem.

Tenho pena disso acontecer num país onde a miscigenação é enorme. O que devemos esperar é que não haja mais hipocrisia. Não adianta culpar fulano ou beltrano por fatos acontecidos num passado remoto, bem como culpar o racismo por qualquer adversidade.


Lembro muito bem do grande Antônio Carlos Bernardes Gomes, o famoso Mussum. No programa dos trapalhões, era chamado de "grande pássaro"(urubu), "azulão", entre outros termos, mas nem por isso se falava em racismo. Era uma piada, assim como a que se faziam sobre Renato Aragão, o Didi, chamando de "cabecinha de bater bife". Não havia essa maldade que há hoje.

Tenho amigos negros, mulatos, brancos, amarelos, heterossexuais, homossexuais, e não faço distinção alguma, sem nenhuma hipocrisia. Somos todos cidadãos com os mesmos direitos e deveres.

Espero não ser mal interpretado por escrever este post. Acredito que façamos todos parte de uma mesma raça: a raça humana.

*Aconselho a todos uma lida neste link sobre a cota racial e o racismo:
Racismo e Censo

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gostei muito, muito mesmo. Ainda mais nesse periodo de nacionalismos exacerbados pela copa, que é na realidade divisionista e não mundial. Vamos ficar atentos ao que separa, tira, diminui, restringe, acaba.
Lindo post, obrigada.

9:32 AM  
Blogger Jôka P. said...

Complexo é uma coisa muito triste.
Recalque, então...
Pode chamar uma lourinha de loura burra que ela vai rir de você, não vai nem dar bola.
Agora, chama uma negra de nêguinha burra, pra tu ver !!!
Ela vai fazer um beó correndo, porque está só esperando por isso.
Vingança de recalcada, né, Leleco ?
Você fez muito bem em interferir e defender o idoso, que não disse mais que a verdade.
Abç!

12:52 PM  
Blogger Jôka P. said...

Leleco,
um blog é como a nossa casinha interna.
Na nossa casa, a gente é o dono, pode tudo.
A diferença é que na nossa casa "real" só vai entrar quem for convidado, e aqui, não.
Um blog também é principalmente um exercício de liberdade de expressão.
Você é inteligente, justo e um homem evidentemente de bem.
Óbvio.
Nunca cometeria um ato de discriminação, mas também não baixaria a crista diante de um.
Polêmica é bom, e todo mundo gosta.
Gosto daqui e do que você escreve. Parabéns!
Tamos aí, conte sempre comigo.
Se alguém não gostar, pode mandar pastar em outra freguesia.
Ou plantar batatas.
Ou procurar um tanque de roupa.
Se não adiantar, manda à m#rd@.
AbÇ!
Jôka P.
:)

2:40 PM  
Blogger Lucinéia, para o íntimos said...

Oi, Leleco! Acho que é a primeria vez que leio o teu blog, e vim parar aqui pelo link lá do blog do "insuportavelmente famoso" Jôka P. ;o)
Gostei muito do teu post. Acho que a história de escravidão nas Américas é a história de um crime contra os negros, independentemente da situação dos africanos na Africa antes de terem sido trazidos pra cá. Um erro não justifica o outro.
Quanto às cotas acho justo em teoria, mas impossível na prática. Quem no Brasil não tem "o pé na África" ou um pouquinho de sangue índio, por exemplo? Pouquíssimos, uma meia dúzia talvez.
Concordo contigo que as condições econômicas do aluno deveriam servir de parâmetro e não a etnia.
Depois acho uma bobagem do caramba ter orgulho de ser branco ou preto ou gaúcho ou seja-lá-o-que-for. A gente nasce do jeito que nasce, e o que vale é o que a gente se torna por opção, não achas? Ser honesto e competente é o que há de bonito.
Por fim, esse moço que reclamou do velhinho é um ignorante. (Ponto final que o comentário ficou muito grande). Beijão pra ti e boa sorte nos concursos.

6:13 AM  
Blogger Simone said...

Preconceito seja ela qual for é péssimo
Beijo

12:20 PM  
Blogger Jonas Prochownik said...

Cheguei aqui por indicação do meu querido amigo Jôka e estou encantada com sua inteligência e dignidade.
Desde já me tornei sua leitora e fã.
Beijos da
Kristal

5:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi seu Leleco,tudo bem?nos visitamos o seu blog varios dias..Nossa nem tem o que falar..essas musiquinhas sao muito engracadinhas..a gente entra so pra escutar!!e muito engracado!!se quiser deixe um e-mail:kathy_crys@yahoo.com.br ate mais..

7:00 PM  
Blogger Dani said...

Este é um assunto delicado, do qual muita gente evita falar justamente pelo medo de ser mal-interpretada.
Mas o fato é que quem mais se discrimina é o próprio negro, principalmente quando aceita este inacreditável sistema de cotas como uma coisa positiva.
Na verdade, as cotas só vêm a acentuar ainda mais a discriminação, uma vez que está implícito em sua criação que os negros só poderão ingressar numa universidade através deste sistema!
Os negros, portanto, deveriam ser contra isso!
Além do mais, é errado destinar benefícios apenas para uma fatia da população. Não apenas os negros pobres precisam de um melhor sistema educacional. Os brancos pobres também, pois a educação deveria ser para TODOS OS BRASILEIROS, independentemente da cor, credo ou nível social.

Bom, mas este tema dá mesmo muito pano para manga. Qualquer hora, me aprofundo mais no assunto.

Beijos, meu amor.
Adorei seu post. :-)

8:31 PM  
Blogger Claudio said...

Esse seu post é um dos melhores e mais bem escritos que eu já vi em todos os blogs.

Bom vir aqui pela primeira vez e me deparar um um texto de alta qualidade e falando francamente muitas verdades.

Você está de parabéns !! Ganhou um fã.

abs

10:36 AM  
Blogger Poemas e Cotidiano said...

Leleco: Que interessante isso que voce contou. Aqui nos EUA o racismo tambem eh muito grande, mas muito tambem dos pretos com os brancos.
E um dia presenciei um preto amigo de minha filha, dizendo: "Eu nao namoro preta, so namoro branca"...
Isso eh dificil, nao eh mesmo?
E mais dificil ainda quando numa situacao assim (como dessa fila) as pessoas tomam tudo como "pessoal".
Acho que devemos observar muito nossas reacoes, e muitas vezes nos controlarmos, pois isso pode acabar com nosso dia.
A cada ano que passa, tenho mais cuidado com o que digo. E morando aqui ha 16 anos, tenho mais cuidado ainda, pois o brasileiro eh mais espontaneo, e diz aquilo que pensa. Aqui, eh um perigo voce dizer qualquer coisa, e voce acaba perdendo ate a espontaneidade.
Muito bom seu escrito, e vou ver aquele site que voce indicou.
Abracos,
MARY

12:58 AM  

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