O Rei do baú - 1ª parte
Senor Abravanel. Muita gente não sabe o que esta pessoa significa para o Brasil. Mas basta perguntar quem é Sílvio Santos, que ninguém ficará sem responder quem ele é.

Seus colegas o apelidaram de Cenorinha, que é o diminutivo de seu nome, Senor. A farra não se limitava à escola. Sua mãe, Rebecca Abravanel, andava de chinelo nas mãos atrás dele, uma vez que ficava horas brincando na Vila Rui Castro, na Travessa Bentevi, no Centro, onde nasceu.
Segundo relatos de vizinhos, Sílvio era um capetinha, e apesar da rididez de sua mãe, não havia quem o controlasse.
Sua mãe tinha um temperamento intempestivo, pois era Turca. Criava em rédeas curtas Sílvio e os outros cinco filhos. O Pai do Sílvio era Grego. Chamava-se Alberto Abravanel, e saiu da Grécia fugindo do serviço militar, refugiando-se na França. Acabou expulso da França ao seu pego em flagrante ao trabalhar como camelô. Veio então ao Brasil onde formou a família Abravanel.
Alberto Abravanel fundou uma pequena lojinha de Souvenirs, mas acabou perdendo tudo no jogo, apostando nos cassinos. Sílvio, irritado, deixou a escola por dois meses, passando a ganhar dinheiro apostando com jogadores de sinuca nos bares da Lapa.
Quando tinha 19 anos, Sílvio mal conseguia ir a escola, pois esta ocupação tirava boa parte do tempo. Para se ter uma idéia, seu índice de faltas chegou a 51% de aulas perdidas.

Antes mesmo dessa época, aos 12 anos de idade, para driblar a falta de dinheiro, e para se divertir, Sílvio e seu irmão, Léo, entravam pela porta de saída dos cinemas, para não pagarem os ingressos. O dinheiro que economizava era gasto com outra mania sua: colecionar figurinhas que vinham dentro de uma bala.
Ele adorava cinema, e tinha uma série antiga que estava passando que se chamava "O Vale dos Desaparecidos". Ia toda quinta feira, pois só passava neste dia, no Cine OK. Neste cinema ele não conseguia entrar pela saída, uma vez que era conhecido do porteiro e do Guarda de serviço. Pagava todas as sessões.
Foi nessa época que começou a brilhar a estrela de Sílvio Santos. Quando chegou o dia de mais um episódio, Sílvio estava doente, com febre alta. Mesmo assim queria ver a série. Sua mãe, no entanto, não deixou. Sílvio chorou, esperneou, mas a vontade da mãe prevaleceu. Mais tarde soube que escapara da morte, uma vez que o Cine OK pegou fogo na hora desta sessão, e muitos espectadores ficaram feridos gravemente.
Aos 14 anos de idade, descobriu que podia ganhar dinheiro vendendo capas de título de eleitor. Mas não foi tão simples, pois só tinha uma capa para vender. Passou a andar pelo Centro do Rio, na Avenida Rio Branco, oferecendo a capa dizendo que era a última. Assim foi, e vendeu. Com o dinheiro, comprou duas peças, e fez o mesmo esquema, disse que era a última, tendo o cuidado de esconder a outra no bolso.
Esperto como ele só, passou a observar os outros camelôs, e seguiu-os até onde compravam os produtos à preço de banana. Sílvio, na época, não confiava mais no pai, que perdia tudo que ganhava no jogo, e sua mãe vivia ameaçando-o, dizendo que teria de trabalhar para comer. Foi então que decidiu apostar na carreira de camelô, mesmo sabendo que esta profissão era irregular na época.
Na época, eram apenas 15 ambulantes vendendo seus produtos no Centro. Sílvio ficava observando o "Seu Augusto", que era o campeão de vendas. Vendia 200 canetas em apenas uma hora. Sílvio aprendeu que primeiro tinha que apresentar o produto, falar de suas vantagens, e só depois dizer o preço.
Sílvio copiou até a forma da bancada de exposição do produto do "Seu Augusto", mas foi mais além. Começou a manipular moedas e baralhos, a fim de entreter os clientes enquanto vendia seus produtos. Alguns dias depois, passou a vender mais que "Seu Augusto". Nesta semana, passou a ganhar 5 salários mínimos da época, por dia, e tudo isso no horário de almoço do Rapa.
Foi então que passou a ter dois funcionários, Pedro Borboleta(sobrinho de Adolpho Bloch) e Léo, seu irmão. Enquanto um fingia ser seu cliente, o outro vigiava a guarda. Teve várias vezes seu material apreendido por Rapas. Mas foi um desses Rapas que o fez mudar de vida.
O então diretor de fiscalização da Prefeitura, Renato Meira Lima, não prendeu Sílvio, como fizera com os outros camelôs. Viu que ele era diferente dos outros. Tinha boa aparência e falava bem e com desenvoltura. Deu ao Sílvio um cartão da Rádio Guanabara, para tentar um emprego por lá. Mais uma vez a sorte havia batido à sua porta.
Mas isso é assunto para outra parte, que contarei em breve.