O amor do Leleco

Cartas de amor, declarações e fotos, para a única mulher que amei na vida. Te Amo, Dani!!!

Eu sou:Leleco
Estou aqui: Rio de Janeiro, RJ, Brasil

quarta-feira, outubro 05, 2005

Leiteiro!!!



Com o falecimento da grande cantora Emilinha Borba, o Brasil perde mais um pedaço da inocência de uma época de ouro.
Uma época em que se vivia sem grandes "estresses", sem a correria e a violência dos tempos modernos, em que se podia inclusive andar à noite no Rio sem maiores preocupações.
As crianças brincavam livres na rua, soltavam pipa, jogavam bola. Ainda não havia a necessidade de encerrá-las nos cárceres que hoje chamamos de “condomínios fechados”.


Antigamente, certos produtos eram vendidos nas ruas e vilas por ambulantes, que se faziam anunciar com certo alarido. Havia o peixeiro, o paneleiro, o padeiro. O leite também era entregue pelo leiteiro, figura quase lendária nos tempos atuais . Os armazéns vendiam fiado para a clientela. Tudo isso em uma época em que se podia deixar o portão de casa aberto.

Os velórios aconteciam nas próprias casas, onde era velado o corpo do falecido na presença dos amigos e familiares. Não eram poucas as vezes em que "desconhecidos" entravam nas casas onde estava sendo velado algum morto, apenas com o objetivo de filar um cafezinho, comer um pedaço de bolo, e até mesmo cumprimentar os parentes do falecido. Tudo isso com o maior respeito.

Durante os dias de Carnaval, ao som das inesquecíveis marchinhas, centenas de pessoas brincavam com guerra de confetes e serpentinas. Às vezes entravam nas casas, fantasiados, para confraternizar, dançar e brincar com os moradores.


Servindo-me deste cenário descrito no texto acima, e para ilustrar a inocência perdida a qual me refiro, contarei uma história real, mas que se afigura como ficção nos dias de hoje.

Waltinho das Candongas morava no Rio de Janeiro, no tempo do guaraná de rolha.
Como a maioria dos pândegos de sua época, entrava e saía anônimo de vários velórios, onde se fartava de diversos aperitivos e bebidas.
Sua casa, como todas as outras de sua rua, vivia de portas abertas. Todos dormiam com as janelas escancaradas, aproveitando o frescor da noite.
Ao amanhecer, chegavam os leiteiros, que diariamente deixavam as garrafinhas de leite nas portas das casas. Era nesta hora que nosso Waltinho, boêmio como ele só, costumava retornar de suas palpitantes noitadas.
Certa manhã, ao deparar-se com as garrafinhas de leite já depositadas nas portas das casas vizinhas, apeteceu-lhe beber uma delas, pois acabara de chegar e ainda não pusera nada no estômago, que já lhe começara a roncar.
Aproximou-se sorrateiramente da porta de um vizinho, e no exato momento em que erguia do chão a dita garrafinha, eis que a porta se abre. A imagem parece congelar-se neste momento. O dono da casa, em mangas de camisa, olha com um misto de desconfiança e perplexidade para aquele homenzinho agachado em sua soleira . “O que estará este cidadão fazendo com minha garrafa nas mãos?” – conjetura o vizinho.

Observam-se mutuamente durante um certo tempo, mas apenas os segundos necessários para que alguma luminosa idéia ocorra à mente embriagada de Waltinho. Devolvendo ao chão a desejada garrafinha de leite, grita em alto e bom som: - Leiteiro!!!
Após a tentativa frustrada, Waltinho afasta-se de pronto da casa do vizinho, e sorrindo com o insucesso da travessura, aperta o passo em direção à sua casa, para ver se ainda pega o café da manhã.

Agora, imagine se esse episódio ocorresse nos dias de hoje. O que aconteceria? É difícil prever, pois muitas coisas mudaram. Ou o leite já teria sido roubado quando Waltinho chegasse, ou seria ele próprio confundido com um ladrão.

Não tenho a resposta, mas o que sei é que antigamente as pessoas levavam a vida com mais leveza. Havia uma maior noção de sociedade, de viver em comunidade.
Hoje as pessoas se engolem, atropelam-se. Uma atravessa o direito de outra sem qualquer remorso. E, se continuar assim, não consigo imaginar que futuro terão as crianças... “o futuro não é mais como era antigamente”.


Emilinha se foi, assim como os tempos áureos em que me inspirei para este texto. Mas ela nos deixará sua obra musical, na qual sempre poderemos buscar as memórias preciosas de um período mais feliz.

2 Comments:

Blogger Dani said...

Leo, essa história é muito engraçada mesmo. Só resta saber se realmente aconteceu, ou se fazia parte do imenso acervo de "causos" do "Waltinho"... rs

12:52 PM  
Blogger Unknown said...

Eu vivi esse tempo do leiteiro. Morava no Grajaú. Lembro do padeiro, com uma cesta de palha, que também ia de porta em porta. Bons (será?) tempos. Eram tempos diferentes. Acho que muita coisa acontecia debaixo dos panos, daí a falsa imagem de inocência. Mas que o Rio era mais bonito, isso era.

9:45 AM  

Postar um comentário

<< Home